Congesso Brasileiro de Homeopatia 2012 parte II
novembro 22, 2012PALESTRA DR. MARCIO DE NARDI – Homeopatia para pecuária
março 20, 2013
CBH IV – IMPRESSÕES PESSOAIS
Neste congresso aconteceram duas mesas redondas que reuniram prescritores e farmacêuticos, o que não é comum em nossos congressos. A primeira dela chamava-se O Modelo Magistral da Farmácia Homeopática e teve como moderador o responsável pela Comissão Científica do Congresso, dr. Jorge Bustamante. O médico Carlos Fiorot falou sobre a necessidade da prescrição individualizada, ou seja, característica básica da abordagem homeopática. Felizmente vemos os prescritores percebendo esta grande vantagem do modelo de fornecimento de medicamento homeopático no Brasil, que é através das farmácias de manipulação. Hoje mesmo recebí um e-mail de uma veterinária de SC perguntando o que fazer para que a gata de sua amiga pudesse tomar uma potência um pouco mais alta do que uma 30CH, já que o farmacêutico suíço só dispunha então de Korsakovianas, e em potências pré-estabelecidas. Como ela poderia resolver a situação? Bem, alternativa há, mas a questão é perceber que isto acontece em função do medicamento industrializado! A indústria não faz e o farmacêutico tampouco sabe como manipular, não está preparado, não tem condições, frascos, laboratório, não pode fazer. Assim, é excelente a apresentação do ex-presidente da AMHB, ressaltando a necessidade da prescrição – e consequentemente da manipulação e dispensação – individualizada.
Depois falei eu, sobre como garantir a qualidade do medicamento homeopático. Não era momento de falar de técnica ou de instalações, procedimentos, treinamentos, controle de qualidade e rastreabilidade, exigidas pela Vigilância Sanitária para qualquer farmácia brasileira. Mais importante é conscientizar os profissionais sobre a importância de atividades conjuntas entre prescritores e farmacêuticos, pois são nestes momentos que a união é selada, que parcerias – saudáveis – são estabelecidas, que amizades são construídas. Estas atividades conjuntas devem ocorrer em cursos, palestras, congressos, projetos e frequência a associações. Prescritores e farmacêuticos conscientizam-se sobre suas necessidades, a importância do trabalho de cada um para os pacientes e a necessidade de unirem-se em prol da homeopatia e dos benefícios aos pacientes. O trabalho das associações profissionais homeopáticas também deve ser realizado em conjunto, sempre que a necessidade não for específica de cada profissional. É através da exigência e das necessidades dos prescritores que os farmacêuticos buscam novos medicamentos, sobem potências, pesquisam soluções.
Thais Correa de Novaes mencionou a dificuldade para abordar “como garantir o acesso ao medicamento homeopático fora do horário comercial e nas cidades do interior”, pois uma vez que a procura por medicamentos homeopáticos diminuiu, assim como as exigências e os custos só aumentam, há farmácias fechando, tanto nas capitais (maior concorrência e custos) como no interior (procura menor ainda). Outra questão é o fornecimento de medicamentos pelo SUS, mais difícil ainda de ocorrer do que através das farmácias comerciais.
O representante da Vigilância Sanitária do estado de Minas Gerais, farmacêutico Alessandro de Souza melo, apresentou a RDC 67, velha e íntima conhecida dos farmacêuticos, tendo sido pressionado para responder a muitas dúvidas e reclamações dos colegas presentes. Uma surpresa: dentre seus slides estava uma foto do nosso laboratório HN, dos gaveteiros de matrizes. Será que ele sabe de tantas dificuldades que temos com nossas autoridades sanitárias que dificultam a manutenção das matrizes por mais que 5 anos, mesmo com controle de qualidade microbiológico adequado, conforme exigido por eles mesmos?
A mesa seguinte foi sobre a prescrição em homeopatia, tendo como moderador o presidente do congresso e participantes da mesa os médicos Ariovaldo Ribeiro Filho, atual presidente da AMHB, Carlos Fiorot, presidente anterior da AMHB e Andre Lorenzon, representando o CRM. Esta composição dá uma ideia da importância que foi dada ao assunto! Os médicos abordaram principalmente as prescrições de leigos, de terapeutas homeopatas, o código de ética do profissional médico. O dr. Tarcísio Palhano, representando o Conselho Federal de Farmácia, contou sobre um Simpósio sobre Prescrição Farmacêutica realizado em Brasília a poucos meses, idealizado e coordenado por ele. Colocou para o auditório algumas perguntas: o que a sociedade espera hoje do farmacêutico que está nas farmácias? e o que este farmacêutico tem para oferecer para a sociedade que o procura? A partir desta reflexão mostrou os diversos serviços farmacêuticos, entre eles o de aconselhamento, que pode ou não incluir a prescrição de medicamentos. Teve uma atuação brilhante, calma, clara e ao final, todos pareciam concordar com ele.
Minha fala, representando a diretoria da ABFH, mostrou as dificuldades que os farmacêuticos tem para atender a prescrições médicas informais, como por telefone, e-mail e que chegam à farmácia em “papeizinhos” e não deveriam ser atendidas. Hoje também há informação por todo o lado. Se você quiser, pode baixar um programa, grátis, para seu celular, com os sintomas e os medicamentos homeopáticos indicados. No mundo todo, em seguida você pede o medicamento em uma farmácia que manipula ou comercializa medicamentos homeopáticos. Há também os que sempre tomaram Arnica após quedas ou excessos musculares, ou Belladonna para dor de garganta, e que vão até a farmácia pedindo estes medicamentos. Defendemos que ao farmacêutico deve ser permitido a prescrição. Assim, ele vai verificar se a solicitação parece correta, faz sentido, se as potências não são tóxicas ou elevadas demais de maneira desnecessária. Ou seja, o farmacêutico vai analisar a prescrição, e atendê-la ou não, conforme lhe parecer adequada. Assim, em união, terminamos uma mesa redonda que poderia ter sido estressante.
Meus últimos comentários sobre o congresso serão sobre as atividades farmacêuticas do dia 15 de novembro no auditório Esmeralda. Carla Holandino começou às 8hs da manhã e a sala foi ficando cada vez mais cheia, apesar do feriado e do horário. Sua habilidade para tornar simples experimentos que não fazem parte do cotidiano da maioria dos homeopatas é muito grande. Um deles, que chamou minha atenção, foi sobre o protocolo Banerji http://www.virtualtrials.com/ruta/ruta2007.cfm e https://sites.google.com/site/banerjiprotocol/home para tratamento de doenças importantes, inclusive câncer. Dêem uma olhada nos sites. O protocolo tem sido estudado pelo NCI, nos Estados Unidos e parece abrir novas e maravilhosas possibilidades.
Carla é membro da Comissão da Farmacopeia Homeopática Brasileira e estava presente e atenta à apresentação da Marcia Borges, comparando as 2 últimas edições com o texto do Manual de Normas Técnicas da ABFH, seguida de diversos comentários. A subcomissão não tem se reunido neste ano e uma sugestão de colega presente foi de tentar promover esta reunião no congresso de Farmácia do CRF-SP, que ocorrerá em outubro, em São Paulo. Esperamos ter sucesso para que novos textos e monografias sejam publicadas e correções sejam realizadas.
Por fim, quero abordar minha apresentação sobre estudos de estabilidade de matrizes, realizado pela Comissão Cientíifica da ABFH, da qual também faço parte. Há alguns anos não nos preocupávamos com este assunto. Depois passamos a colocar prazo de validade em matrizes: colegas mais tímidos afixaram 5 anos; outros passaram atribuir 10 ou mais anos, com acompanhamento de análises microbiológicas que garantem que não há contaminação. Aliás, quando passamos a ser pressionados para uma validade apenas de 5 anos, fomos coletando diversos artigos científicos que mostram a quase impossibilidade de desenvolvimento de microorganismos em soluções alcoólicas. Foram apresentados estudos de Mafalda Biagini, Reys, da minha equipe e do SINAMM, e todos mostram que matrizes com até mais que 20 anos, conservadas adequadamente em frascos bem fechados, não apresentam contaminação microbiológica.
É possível replicar perguntando sobre a atividade homeopática, e aí as evidências são as mesmas: matrizes – ou medicamentos – muito antigos, bem conservados, tem atividade clínica.
Conforme informado ao final da palestra, a ABFH enviou ofício ao responsável pela Farmacopeia Brasileira, solicitando um posicionamento das subcomissões de homeopatia e microbiologia. E também contratou um estudo estatístico sobre a estabilidade microbiológica. Esperamos ter resultados em breve.
Por fim, gostaria de lembrar sobre a importância da conservação de matrizes. O estoque de uma farmácia homeopática pode chegar a 50.000 ou 60.000. Se o prazo de validade destas matrizes for distribuído igualmente ao longo do tempo, teríamos cerca de 10.000 matrizes “vencendo” ao ano, ou 833 “vencendo” ao mes, ou ainda mais de 40 matrizes “vencendo” ao dia. A farmácia precisa ter um responsável para decidir o que fazer com estas mais de 40 matrizes ao dia, seja descartar, registrar descarte, nova dinamização de um passo a mais (se este procedimento for aceito pelas autoridades sanitárias), compra de novas matrizes. Se o responsável não fizer isto durante alguns dias, haverá um acúmulo de trabalho muito grande.
Outro aspecto muito mais importante é o desaparecimento das baixas potências e até mesmo de matrizes antigas, que não podem ser repostas por motivos diversos: desaparecimento ou alteração da fonte, custo de deslocamento para coleta para diversos países, tempo e disponibilidade para refazer todas as matrizes. O que ocorre? Várias matrizes irão desaparecem, ou suas potências mínimas passam a ser muito altas, o que já ocorre com alguns medicamentos que só são encontrados a partir da 18CH, por exemplo.
Serão estas medidas sanitárias e legais as melhores para a homeopatia? Vamos pensar nisto e nos movimentarmos em favor da homeopatia e dos seus pacientes. Próximos congressos virão. Preparem-se, farmacêuticos em especial, para o congresso de Farmácia do CRF-SP no início de outubro, aqui em São Paulo. O Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Homeopatas deve acontecer junto ao congresso de Farmácia. Será um grande evento! Prepare-se para não perder!