Patrimônio centenário, leis velhas

Estadão 5/7/2012 – Patrimônio centenário, leis velhas.

QUEIJOS DE LEITE CRU E MÉIS DE ABELHAS NATIVAS SOFREM DO MESMO PROBLEMA (dos medicamentos homeopáticos): LEIS ANTIQUADAS QUE TRATAM PEQUENOS PRODUTORES E CONHECIMENTOS ANCESTRAIS COM O MESMO RIGOR DEDICADO À GRANDE INDÚSTRIA

Lendo o Estadão de hoje, lí a frase acima – e logo acrescentei que o problema é o mesmo dos medicamentos homeopáticos hoje no Brasil.

Está no jornal que “Ninguém mexe no queijo artesanal brasileiro, mas não é por falta de tentativa: o governo é que não deixa. Produtores que herdaram um saber centenário tem abandonado o fabrico de queijos de sabor único. A legislação impede a produção de queijo a partir de leite cru por questões sanitárias – como fazem os EUA, como não fazem os europeus.

O mel de abelhas nativas também sofre com regras velhas. .. Para viajar, precisa de cuidados especiais, como pasteurização. Na falta desses processos, continua ilegal e não pode ser considerado mel. É no mínimo irônico: das 500 espécies de abelhas nativas da América Latina, 250 estão no Brasil.

Os entraves ao queijo e ao mel são resultado de uma legislação antiga que insiste em tratar microprodutores com o rigor dedicado à grande indústria.”

Quais os pontos em comum com uma farmácia homeopática? nós também somos pequenos produtores, com conhecimentos ancestrais, e somos tratados com o mesmo rigor dedicado à grande indústria. Mais difícil ainda: como os que se dedicam à coleta de méis ou fabricação de queijos especiais, nós também nos dedicamos à manipulação de medicamentos especiais (homeopáticos, no caso das farmácias) e na produção de matérias primas especiais para o preparo de medicamentos homeopáticos (no caso de laboratório industrial de insumos para medicamentos homeopáticos). Parece brincadeira? nossos medicamentos podem ser feitos a partir de plantas diversas, provenientes do mundo todo: Arnica montana só cresce na montanhas europeias, Ignatia amara na Índia, Strophantus na África, China officinalis nas altitudes andinas, Ipeca nas bordas do Pantanal matogrossense. De animais marinhos, terrestres, do deserto, grandes aves, pássaros, insetos, cobras, escorpiões, vagalumes, borboletas! De minerais tão diversos quanto possível, assim como de todos seus sais: minério de ferro, Ferrum metalicum, sulfato, nitrato, nitrito, carbonato, etc, etc. De materiais como lava de vulcão da Islândia, água mineral de uma fonte americana que já não existe mais, de substâncias tóxicas (que deixarão de sê-lo através da dinamização) como arsênico, dioxina, agrotóxicos, chumbo e venenos.

A manipulação dos medicamentos está descrita em farmacopeia. Que ótimo, menos um ponto de fragilidade! Mesmo assim, a dinamização transforma substâncias tóxicas e controladas, com as quais jamais seriam feitos medicamentos, em remédios úteis e dignos de prescrição. Isoterapia é o emprego terapêutico de substâncias que causaram sintomas em uma pessoa, animal ou vegetal, porém preparada como medicamento homeopático. Aqui enquadram-se, por exemplo, medicamentos homeopáticos feitos de substâncias tóxicas como o agrotóxico Dioxina, prejudicial para todos os seres vivos. Porém, vá fazer alguém entender, sem conhecimento específico de homeopatia, que um laboratório precisa de Dioxina – ou Cracking – para preparar medicamentos, que servirão de matéria prima para que farmácias manipulem medicamentos homeopáticos para seus pacientes. Como a legislação específica para homeopatia é insuficiente, a legislação geral acaba sendo aplicada. E os pequenos sofrem, ao serem tratados como a grande indústria. Resultado? se novas legislações específicas não forem criadas, o que se pode prever é o desaparecimento dos queijos e méis especiais, assim como dos medicamentos também especiais.

Cuidar dos detalhes é difícil, porém pode fazer a diferença!