Trabalhe Conosco
janeiro 30, 2012Patrimônio centenário, leis velhas
julho 18, 2012
A partir da década de 80, com o fim do movimento hippie, formou-se uma consciência de que se poderia viver melhor. Determinados segmentos sociais passaram a se preocupar em olhar para como viver, como se alimentar e cuidar de sua saúde. Já se sabia naqueles dias, que viver bem era mais do que poder consumir. Mas mais do que saber, esse grupo se preocupava em viver essa “filosofia”. Embora os níveis de poluição fossem menores, já se procurava “alimentos naturais”, ou seja naturalmente produzidos. Já se percebia ser a saúde fruto do que se comia e como se vivia. E se fosse necessário, bem, existia a medicina alternativa para reconduzir o corpo a seu equilíbrio natural.
E esse movimento cresceu também por aqui. Não explodiu como um modismo, mas cresceu de maneira firme e sólida, a ponto por exemplo, do Brasil se tornar um dos países com o maior número de médicos homeopatas do mundo. Cresceu tanto, que hoje uma grande parcela da população busca exatamente todos os fundamentos que vivíamos no século passado. A cultura do natural e do alternativo.
Busca mas não encontra!
Esse movimento, que no Brasil vimos acontecer pela ótica da farmácia homeopática, pela explosão dos Florais de Bach já na década de 90, com o crescimento das demais práticas alternativas, aconteceu na Europa e nos Estados Unidos simultaneamente. Em cada lugar com suas características próprias. E isso por fim alertou a grande indústria que passou a cuidar melhor do que para ela sempre foi uma tendência de minoria que eles não precisavam olhar. E a reação do capital foi suave e fulminante. De repente, o transgênico passou a ser necessário para alimentar as populações mais desfavorecidas do globo. O detalhe de que o agricultor fica dependente de uma tecnologia pela qual ele paga toda a riqueza que ele produz é irrelevante. O argumento oficial é de que “… para se vencer esta guerra contra a fome, necessariamente perderemos alguns combatentes…” . Os grandes conglomerados agropecuários são lucrativos e altamente produtivos (quanto ao detalhe do esgotamento da terra ou do desmatamento, eles se defendem alegando ser só um pequeno ônus que tem-se de carregar para se poder alimentar o mundo!).
Na medicina, o que era alternativo, virou complementar. De repente não existe mais medicina alternativa, e sim medicina complementar. Uma medicina que eventualmente pode “complementar a boa medicina oficial”. O natural passou a ser artesanal, improvisado, sem controle (a versão oficial defende que a população deva ser protegida contra os riscos dessa produção sem os recursos tecnológicos hoje disponíveis). A biodiversidade passou a ser uma reserva de mercado para as grandes corporações farmacêuticas internacionais, que passaram a travestir seus medicamentos com o rótulo de “Naturais”, bastando para isso que extraíssem e sintetizassem seus ativos, de preferência atribuindo a ele uma patente de forma que só aquele conglomerado pudesse usufruir de seus ganhos financeiros.
Nossas opções por uma vida independente dos conglomerados industriais e financeiros parecem estar se esgotando. Outro dia, foi publicado nos grandes jornais de São Paulo, um editorial da indústria plástica como reação à tendência que começa a se manifestar pretendendo restringir o uso das sacolas plásticas nos supermercados. Lendo o texto, você tem a impressão de estar cometendo uma grande injustiça contra o mundo, querendo abandonar o uso da sacola plástica, afinal, dizem os “injustiçados fabricantes”, o plástico é “responsável pela salvação de inúmeras vidas. O que seria do banco de sangue ou do coração artificial não fosse o plástico?”. Como se uma coisa tivesse a ver com a outra!
O duro, é que nós aceitamos todas as colocações das agências de publicidade como se fossem verdades. Somos, cada vez mais, tratados como “mercado a ser conquistado”; Lemos nos jornais que a indústria volta-se agora para este ou aquele segmento que aparece como mais promissor. Vemos que seus produtos têm que ser melhor preparados para esta ou aquela classe social, e não percebemos que estão falando de nós, ditando nosso futuro, nossas opções, “criando as necessidades”. Você precisa trocar seu celular por este novo que além de telefone também é um computador. Seu e-mails serão lidos até no banheiro. Olha só, eu te mantenho plugado 24hs por dia, ligado em seu trabalho e em como vai gastar o dinheiro que está ganhando. E nós gostamos disso! Nos mantem sempre antenados de forma que gastemos tudo aquilo que somos capazes de produzir.. Nós nos tornamos o ambiente de consumo complementar, alvo das agências de publicidade.
Chega! Não quero mais ser complementar.
Eu quero ser alternativo! Quero poder acreditar que posso viver e escolher meus prórpios caminhos. Quero acreditar que posso contribuir para um mundo melhor sem ser movido unicamente por querer transformar tudo o que faço em um gerador de dinheiro. Quero acreditar que posso produzir para minha comunidade, que posso usar minha inteligência criando oportunidades para que outros possam também se desenvolver. Não quero o Estado decidindo o que é melhor para mim. Suas decisões são pela média e pelo que consegue entender, É um mundo medíocre regulado pela mediocridade de quem acha que sabe o que é melhor para mim.
Quero ser alternativo! Usar uma medicina alternativa aos interesses financeiros, que não tenha patentes. Usar dos recursos da minha terra, do meu país sem ter que me curvar aos regulamentos que entregam nossa biodiversidade às multinacionais e privam nosso povo da utilização das plantas como faziam nossos avós ou as pessoas mais simples.
Quero ser alternativo! Usar um telefone para me comunicar com quem de fato preciso, e não para extravasar minha ansiedade. usar um computador sem ter que pagar por um novo sistema a cada virada de ano, fazendo conta de quanto está custando cada tecla que eu aperto.
Quero ser alternativo! Poder ouvir o som dos pássaros da janela de meu quarto, e não do toca discos da sala. Poder sentir o sol na minha pele sem a poluição que filtra seus raios, ou o medo de câncer de pele como vendem os anúncios de médicos, farmacêuticos e cosméticos.
Quero acreditar num mundo melhor, com pessoas melhores e mais felizes, que digam bom dia umas às outras, e se sintam bem com isso. Que apreciem as coisas simples e que vivam em paz.
Isso para mim é ser alternativo.